sexta-feira, 30 de outubro de 2009
O Grito, de Munch: Quem não conhece?
O Grito (no original Skrik) é uma pintura do norueguês Edvard Munch, datada de 1893. A obra representa uma figura andrógina em um momento de profunda angústia e desespero existencial. O pano de fundo é a doca de Oslofjord (em Oslo) ao pôr-do-sol. O Grito é considerado uma das obras mais importantes do movimento expressionista e adquiriu um estatuto de ícone cultural, similar ao da Mona Lisa de Leonardo da Vinci.
A fonte de inspiração de O Grito pode ser encontrada na vida pessoal do próprio Munch, um homem educado por um pai controlador, que assistiu em criança à morte da mãe e de uma irmã. Decidido a lutar pelo sonho de se dedicar à pintura, Munch cortou relações com o pai e integrou a cena artística de Oslo. A escolha não lhe trouxe a paz desejada, bem pelo contrário. Munch acabou por se envolver com uma mulher casada que só lhe trouxe mágoa e desespero e no início da década de 1890, Laura a sua irmã favorita, foi diagnosticada com doença bipolar e internada num asilo psiquiátrico. O seu estado de espírito está bem patente nas linhas que escreveu no seu diário: “Passeava com dois amigos ao pôr-do-sol – o céu ficou de súbito vermelho-sangue – eu parei, exausto, e inclinei-me sobre a mureta– havia sangue e línguas de fogo sobre o azul escuro do fjord e sobre a cidade – os meus amigos continuaram, mas eu fiquei ali a tremer de ansiedade – e senti o grito infinito da Natureza”.
O quadro foi exposto pela primeira vez em 1903, como parte de um conjunto de seis peças, intitulado Amor. A ideia de Munch era representar as várias fases de um caso amoroso, desde o encantamento inicial até um rompimento traumático. O Grito representava a última etapa, envolta em sensações de angústia. O conjunto Amor foi classificado como arte demente (mais tarde, o regime nazista classificou Munch como artista degenerado e retirou toda a sua obra em exposição na Alemanha).
Um crítico considerou o conjunto, e em particular O Grito, tão perturbador que aconselhou que as mulheres grávidas evitassem a exposição. A reação do público, no entanto, foi oposta a da crítica e o quadro tornou-se em motivo de sensação. Munch acabou por pintar quatro versões de O Grito, para substituir as cópias que ia vendendo. O original de 1893 (91x73.5 cm), em uma técnica de óleo e pastel sobre cartão, encontra-se exposto na Galeria Nacional de Oslo. A segunda (83,5x66 cm), em têmpera sobre cartão, foi exibida no Munch Museum de Oslo até ao seu roubo em 2004. A terceira pertence ao mesmo museu e a quarta é propriedade de um particular.
Para responder ao interesse do público, Munch realizou também uma litografia (1900) que permitiu a impressão do quadro em revistas e jornais. A carreira dessa obra como ícone cultural começou no período pós-Segunda Guerra Mundial.
Com a popularização da obra, O Grito tornou-se um dos quadros mais reproduzidos da atualidade, não só em pôsteres como também em canecas, canetas e porta-chaves. Nos anos 1980, Andy Warhol realizou uma série de trabalhos dedicados à obra de Munch, incluindo uma releitura de O Grito. Em 1991, o muralista Robert Fishbone criou uma versão boneco inflável que vendeu milhares de cópias em todo o mundo. Ghostface, o assassino psicopata da série de filmes Pânico (Scream), esconde a sua identidade sob uma máscara inspirada em O Grito. A mesma máscara aparece no filme Scary Movie, sátira de Scream. No filme Looney Tunes de Volta a Ação, Pernalonga e Patolino entram dentro do quadro e o homem começa a gritar. Quando Pernalonga pisa no pé de Hortelino, ele grita fazendo uma expressão igual a do quadro. O quadro apareceu duas vezes na série Os Simpsons. A primeira foi na abertura do episódio Treehouse of Horror IV (Casa da árvore dos horrores, parte IV, em português), exibido nos Estados Unidos em 1993. A segunda vez ocorreu no episódio See Homer Run, de 2005, na qual o roubo das duas versões da pintura foi satirizado. Sua aparição mais recente foi na série da Disney Os Feiticeiros de Waverly Place, no episódio "Art Museum Piece" (ou em português Peça do Museu de Arte).
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Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirMuito interessante a explicação sobre a obra. É um quadro muito conhecido e possível de várias interpretações, mas essa visão do artista por mim era desconhecida.
ResponderExcluirPela composição da obra é possível analisar características típicas do expressionismo, onde o que interessa para o artista é a expressão de suas ideias e não um retrato da realidade, como a cor da angústia e da dor.
A dor do grito está presente não só no personagem, mas também no fundo, o que destaca que a vida para quem sofre não é como as outras pessoas a enxergam, a paisagem fica dolorosa e talvez por essas características do quadro, nos introjetamos lá e passamos a ver o mundo torto, disforme e isso nos afeta diretamente e participamos quase interativamente da obra.
O autor conseguiu algo fantástico, retratou a dor do grito. Acredito que esta seja uma das obras mais importantes do expressionismo.
Raquel Barth
Na perturbadora obra “O Grito”, do expressionista norueguês Edvard Munch, é possível sentir a dor retratada de forma surpreendente. Não conseguimos passar ilesos ao trabalho do artista: o impacto visual - que surge da junção da figura andrógina desesperada e cheia de angústia, e nas cores escolhidas – praticamente “puxa” o expectador para o quadro, fazendo-o, de certo modo, participar da obra.
ResponderExcluirA imagem se mistura às sensações despertadas. É como se o desespero - expresso na pintura - pudesse “distorcer” tudo à sua volta, exatamente como sugere o quadro. A dor, como ondas sonoras, se amplia e toma tudo à sua volta. O contexto todo da cena se dilui na angústia que permeia as pinceladas intensas e intrigantes. Sem dúvida, a obra de Munch pulsa, de forma assombrosa e inesquecível.
A fonte de inspiração d’O Grito pode ser encontrada na vida pessoal do próprio Munch, um homem educado por um pai controlador, que assistiu em criança à morte da mãe e de uma irmã. Decidido a lutar pelo sonho de se dedicar à pintura, Munch cortou relações com o pai e integrou a cena artística de Oslo. A escolha não lhe trouxe a paz desejada, bem pelo contrário. Munch acabou por se envolver com uma mulher casada que só lhe trouxe mágoa e desespero e no início da década de 1890, Laura a sua irmã favorita, foi diagnosticada com doença bipolar e internada num asilo psiquiátrico. O seu estado de espírito está bem patente nas linhas que escreveu no seu diário:
ResponderExcluirPasseava com dois amigos ao pôr-do-sol – o céu ficou de súbito vermelho-sangue – eu parei, exausto, e inclinei-me sobre a mureta– havia sangue e línguas de fogo sobre o azul escuro do fjord e sobre a cidade – os meus amigos continuaram, mas eu fiquei ali a tremer de ansiedade – e senti o grito infinito da Natureza.