domingo, 17 de outubro de 2010
Curador da 29ª Bienal de São Paulo fala à revista Cult
Professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP), Agnaldo Farias é um dos curadores e críticos de arte mais reconhecidos do Brasil.
Juntamente com Moacir dos Anjos, ele assina a curadoria da 29ª Bienal de São Paulo. A revista Cult, n. 150, traz uma entrevista de Fernanda Paola com ele, abordando entre outros temas o espaço dedicado às artes na mídia, a arte contemporânea, Nuno Ramos, os museus brasileiros e, claro, as opções da curadoria nesta Bienal de São Paulo. O título da entrevista já aproxima das ideias de Agnaldo Farias: Só a arte salva.
Vale pena ler a entrevista na íntegra, o que pode ser feito no site da revista: http://revistacult.uol.com.br/home/2010/09/so-a-arte-salva/
Abaixo, alguns trechos da entrevista que podem ser debatidos no Fórum:
"A Bienal é o único lugar onde existe uma difusão de obras de qualidade do ponto de vista nacional e internacional. Não tem nada com essa magnitude no Brasil, um país que criou leis de incentivo, disparou a criar museus e centros culturais, mas continua uma rota alternativa. Só nos chegam, no geral, exposições de artistas mortos e consagrados e frequentemente fundo de estúdio. Produções menores de artistas maiores".
"Nossos museus são eminentemente provincianos. Eles estão ancorados em exposições temporárias, porque seguem a lógica da mídia. Não é a lógica da educação, da formação. Se for museu, tem acervo e coleção. As nossas exposições são ocultas, porque não dá mídia. O Brasil não coleciona arte internacional, nem sequer nacional. Procure por Volpi, Di Cavalcanti, você não acha. Os museus ocultam porque, para ter dinheiro e se manter, precisam de exposições temporárias. Então, a Bienal preenche essa lacuna ainda. Não só no âmbito da difusão, mas também no da produção. Porque, quando você convida o artista, você o comissiona. Nesse momento você é mais do que um difusor, é um centro parceiro na produção. Por exemplo, nós temos um trabalho inédito do Cildo Meirelles. É um trabalho que estava como sonho. Você pode sonhar em pequena escala, mas pode sonhar em grande escala. Agora, se não tem custo para fazer nem espaço para expor, como fica? Uma exposição é essencial para esse processo. É onde o trabalho do artista se realiza".
"O curador precisa ter conhecimento sobre a obra e sobre recortes que pode dar a essa obra, que têm de ser suscitados por ela. O mau curador é aquele que pega o ruim de um artista bom, mas que vá ao encontro de uma tese dele. E também existe a falta de critério. [...] Você pode construir articulações estimulantes, mas tem as muito pobres, gente ruim se apropriando de trabalhos bons, colocando-se à frente da fonte, que são os artistas. O curador é um leitor que está próximo da produção. Você desprezaria um comentário do Antonio Candido sobre o seu texto?"
"[...] O espaço da Bienal é de aproximações, museu é outro papo. O nosso compromisso é com as fontes e com quem é efetivamente radical dentro desse processo. Por exemplo, não traria nunca Romero Brito, porque não é artista, é outra coisa. E aí existe uma divisão, você não pode convidar para a mesma festa. Um mau artista não melhora com o contato com o bom artista. E o bom artista não ganha com a presença de um mau artista. E você engana o público. Estamos tentando fazer o que o mercado não faz, que é mostrar o que está fora do circuito".
"[...] Poderíamos fazer uma exposição sobre pintura, mas a Bienal não precisa fazer isso. Tem de ir ao limite. Se ela não der conta, fecha as portas. A arte é alguma coisa que você produz e não tem nenhum desejo dela preteritamente. Você não acorda querendo ouvir uma música que nunca ouviu. A arte se faz necessária".
Leia a entrevista na íntegra em:
http://revistacult.uol.com.br/home/2010/09/so-a-arte-salva/
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