terça-feira, 25 de agosto de 2009

Arte Conceitual no Brasil


























Inserções em circuito ideológico: Projeto Coca Cola, de Cildo Meirelles - Consistiu em escrever, sobre uma garrafa de Coca Cola, um dos símbolos mais eminentes do imperialismo norte-americano, a frase Yankees go home, para, após, devolvê-la à circulação. Além da questão política o projeto faz referência a toda problematização desenvolvida pelos movimentos de vanguarda e por Marcel Duchamp no início do século - uma espécie de ready made às avessas


A Arte Conceitual é, no Brasil, um campo de expressão artística muito pouco compreendida. Isto se deve a muitos artistas, jornalistas desinformados e críticos de arte que a tratam como se esta fosse a única forma de Arte Contemporânea. Arte Conceitual nada mais é do que uma das inúmeras formas de expressão artísticas possíveis para o desenvolvimento de um trabalho pelo artista plástico.

Intervenção urbana de José Rezende no Projeto Arte Cidade, São Paulo

Na década de 60, através das ideias veiculadas pelo grupo Fluxus, a Arte Conceitual torna-se um fenômeno mundial. No Brasil, artistas como Arthur Barrio, Baravelli, Carlos Fajardo, Cildo Meirelles, José Rezende, Mira Schendel, Tunga e Waltércio Caldas começam a desenvolver um trabalho nessa forma de expressão.
No final da década de 60, a conjuntura política repressiva que se instalara desarticulou os grupos de artistas conceituais, que foram expulsos dos salões, bienais, e galerias.

Letras, obra de Mira Schendel, e instalação de Cildo Meirelles, denominada Desvio para o Vermelho

A década de 70, por sua vez, se caracteriza pela expansão da Arte Conceitual, isto é, da arte como ideia, através de meios artísticos, operando com novos meios tecnológicos, multimeios e uma outra modalidade espacial e fragmentada de trabalho denominada - instalação.
Nessa época, novas tecnologias se associam à operação conceitual do artista, como arte e computador.
As características da Arte Conceitual nos anos 70 são a reflexão, a razão e a substituição da vida pela arte. Uma arte que é, sobretudo, ideia que se relaciona com o público de forma bem diferente, em comparação com a arte da década anterior. Nesta época, surgem no Brasil vários grupos envolvidos com Arte Conceitual, ou, sobretudo arte como processo experimental, dirigida por conceitos.
Estes grupos não se constituem como escolas de formação, mas como centros de artesanato conceitual, dos quais se destacam o grupo do On-Off, em São Paulo, o Espaço N.O (Nervo Óptico), em Porto Alegre, em 1976, e o Núcleo de Arte Contemporânea, em João Pessoa, em 1978. Cabe salientar, que estes grupos não atuam como escolas de arte, mas como locais de exposição e discussão sobre a arte atual.
No Brasil, como no Leste Europeu e América Latina, a Arte Conceitual se desenvolve com clara intenção política. A natureza dos meios artísticos e a possibilidade de fácil reprodutibilidade e a sua rede quase clandestina de distribuição permitiram em nosso país a expressão de uma arte fortemente crítica ao regime militar, o que não seria possível com os meios convencionais da pintura e da escultura.
Na Arte Conceitual, o público se obriga a deixar de ser apenas um observador passivo, pois o entendimento da obra de arte não é mais direto. O público também é obrigado a refletir e sair da confortável situação de saber, por antecipação, avaliar se uma obra de arte é “ruim” ou “boa”. Não é mais possível ir a uma exposição e dizer se a paisagem está bem composta ou se a pintura é de qualidade. Questões clássicas das artes plásticas como a composição, estudo de cor e o uso da luz podem não ter sentido nenhum na Arte Conceitual. Na Arte Conceitual, o público é convidado a pensar sobre a obra de arte para aceitá-la e compreendê-la.


Objeto Preenchido, de Waltércio Caldas


Da mesma maneira que um pintor figurativo precisa estudar profundamente a sua técnica e a forma de expressão para que possa fazer, por exemplo, um retrato de qualidade, o artista conceitual necessita ter um profundo conhecimento de filosofia, história, cultura e informação sobre o mundo atual para que possa criar “reflexões” visuais consistentes. Esse esforço é fundamental para o artista interessado na Arte Conceitual. A maioria dos artistas conceituais vem de uma formação universitária. Muitas vezes, compelidos pela necessidade de estudo, esses artistas acabam produzindo pesquisas de mestrado e doutorado em artes.

A Janela e o Olhar, videoarte de Ricardo Hage

Atualmente, os artistas conceituais produzem suas concepções através de várias formas de expressão artísticas: videoarte, fotografia, instalação, performance, internet art e Land Art. Cada uma dessas formas de expressão leva o artista a novos desafios, e, muitas vezes, a uma volta para as formas de expressão tradicionais das artes, como a pintura, a gravura e a escultura. Esse movimento de inter-relação entre tradições artísticas tradicionais e contemporâneas tem muitas vezes sido chamado de Neo-Conceitualismo. Talvez o Neo-Conceitualismo nada mais seja do que a superação das pré-concepções que tanto têm atrapalhado a livre expressão do artista plástico na atualidade, possibilitando que ele possa, enfim, produzir arte sem ser rotulado como acadêmico ou contemporâneo. Talvez o Neo-Conceitualismo permita que o artista seja simplesmente um artista.
(Ana Carolina Siebel e Ramon Claro)

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