terça-feira, 25 de agosto de 2009

Body Art (Arte do Corpo)

O artista francês e um dos maiores nomes do movimento, Yves Klein, usava os modelos como pincéis vivos
O italiano Piero Manzoni

Obra ambulante de Piero Manzoni



Rrose Selavy - Duchamp posando para o fotógrafo Man Ray


Esculturas vivas de Ben Vautier e Gilbert & George


“Tudo pode ser usado como uma obra de arte, inclusive o corpo”
Marcel Duchamp

Nas décadas de 60 e 70, a arte alarga de tal forma suas fronteiras e muda tão completamente suas regras que permite o desenvolvimento de uma relação totalmente nova entre o artista e o corpo: surge a body art, decretando que o corpo é o suporte da obra de arte ou meio de expressão, associada à arte conceitual e ao minimalismo.
Antes considerado apenas objeto de representação, o corpo se converte então em material de trabalho submetido a experimentações diversas: alguns artistas se despem, outros se lambuzam de tinta, outros se deixam manipular de maneira irrestrita pelo público. Outros ainda - elevando ao máximo a radicalidade que para muitos é um sinônimo de body art - comem vidro, se cortam, bebem sangue, e até levam tiros no museu.
Certamente, essas proposições extremas não poderiam ter sido recebidas com indiferença na época em que foram realizadas. Na atualidade a body art ainda impressiona pela intensidade de suas experiências e pela audácia – ou talvez insanidade – de seus artistas. Ao suscitar um misto de atração e repulsa, e operando na contramão do ideal clássico de arte, a body art convidava à reflexão: isso é arte?
Procurando traçar as origens da body art no século XX, diversos autores localizam as obras de Marcel Duchamp e Jackson Pollock como duas significativas fontes para o desenvolvimento da arte corporal. Em 1919, Duchamp havia explorado seu corpo como suporte da arte.
Podemos citar, entre outras experiências, a foto Rrose Sélavy feita pelo fotógrafo Man Ray, a partir da pose de Marcel Duchamp travestido de mulher, sua comunicação com o público se dá através de documentação, e também por meio de vídeos ou fotografia.
Entre o final dos anos 50 e o início dos anos 60, diversos artistas embarcam em uma espécie de jogo de apropriação do corpo. O italiano Piero Manzoni assinava pessoas ou emitia certificados de autenticidade que garantiam aos seus portadores um status de obras de arte ambulantes.
Ben Vautier e Gilbert & George se apresentavam como esculturas vivas.
O francês, Yves Klein – que se referia às suas modelos como pincéis vivos – declarou que a missão do artista seria realizar uma única obra-prima, ele próprio, constantemente.
Certamente, a crença de que a arte reside no artista em pessoa, e não necessariamente em algum objeto produzido por ele, contribuiu para o aparecimento de uma arte corporal. Na opinião de vários autores, a idéia do artista enquanto obra, e, portanto, do corpo ou da ação do artista na obra, era algo que já se insinuava com Jackson Pollock, considerado um importante precursor desse movimento.
Miller diz que, “atualmente, nesses dias em que o Outro não existe,
as normas deixam o corpo de lado, desvelando a insistência da questão: ‘o que fazer do seu corpo?’. Piercing, Tatuagem é body art?
Portanto, o ataque ao corpo na body art torna-se a sede de invenções, eis o que esses artistas nos apresentam em termos do valor de uso do corpo humano. O homem tem um corpo e, como corpo vivo, como se utiliza do saber fazer com o gozo que o afeta ?
Nesse contexto, o conceito de corporização coloca-se como o modo de cada um ter a posse do corpo próprio. Corporização foi o termo cunhado por Miller para captar, de forma ampliada, o efeito do significante incorporal inscrevendo-se, soletrado no corpo. Desde esta perspectiva do último ensino de Lacan, devemos passar a entender o corpo como apoio, “como superfície sobre o qual escrevemos, decoramos, pintamos, ferimos a substância, que mutilamos ocasionalmente, tantas outras operações nas quais vemos, com evidência, a corporização do significante”.
Desta forma, à medida que o corpo foi tomado como apoio e superfície, explicita-se que a relação do homem com seu corpo é da ordem do ter, isto é, ele não é de imediato o seu corpo; por isso, de alguma maneira, ele tem que torná-lo seu. Assim, a body art demonstra a presença, a atividade da corporização.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.