terça-feira, 25 de agosto de 2009

Arte Conceitual

A Arte Conceitual define-se como o movimento artístico que defende uma superioridade das ideias veiculadas pela obra de arte. A ideia e a concepção que levou uma arte ser pensada ou construída é o principal nessa proposta artístic, deixando os meios usados para em um lugar criar com um papel secundário. Na Arte Conceitual, a aparência da obra pode até ser dispensável, o mais importante nessa arte são as ideias, a execução da obra fica em segundo plano e tem pouca relevância.

O artista Sol LeWitt definiu-a como:

"Na Arte Conceitual, uma ideia ou conceito é o aspecto mais importante da obra. Quando um artista busca uma forma conceitual de arte, significa que todo o planejamento e uma série de decisões são tomadas antecipadamente, sendo a execução um assunto secundário. A ideia torna-se uma máquima que origina a arte".

Além disso, não há exigência de que a obra seja construída pelas mãos do artista. Ele pode muitas vezes delegar o trabalho físico a uma pessoa que tenha habilidade técnica específica. O que importa é a invenção da obra, o conceito, que é elaborado antes de sua materialização.

Surgimento

A expressão Arte Conceitual fazia referência uma uma forma histórica de vanguarda que floresceu no final da década de 60 e ao longo da década seguinte. O termo era empregado na época para designar uma multiplicidade de atividades com base na linguagem, processos e fotografia, os quais se esquivavam do embate que, então, se efetuava entre, de um lado, uma Arte Minimalista e várias práticas "informais", e, de outro, uma instituição do Modernismo, num contexto de crescente radicalismo político e cultural.

O artista Sol Le Witt publicou os seus Parágrafos sobre Arte Conceitual em 1967, seguidos das Sentenças sobre Arte Conceitual em 1969. Ocorreu também naquele ano a primeira publicação da revista Art-Language, que trazia o subtítulo "Revista de Arte Conceitual". Porém, o primeiro a empregar, de fato, a expressão "arte conceitual" foi o escritor e músico Henry Flynt, ainda em 1961, em meio às atividades associadas ao grupo Fluxus de Nova York. Em um ensaio posterior, publicado na antologia do Fluxus (1966), Flynt escreveu que "arte conceito" é acima de tudo uma arte na qual o material são os "conceitos, argumentando, em seguida, que como os conceitos são estritamente vinculados à linguagem, uma arte conceitual é um tipo de arte na qual o material é uma linguagem ".

O ethos predominante do Fluxus constituía-se de uma mistura de crítica aguçada e extravagante de humor - como intuiu Dick Higgins quando comentou que muitos artistas, no final da década de 50 e começo de 60, começavam a que acreditar "xícaras de café podiam ser mais belas do que elegantes e elaboradas esculturas".

Esse sentido da beleza potencial presente em objetos do cotidiano ecoa uma longa tradição de atividade de vanguarda, afastando-se da pompa e do protocolo da "alta cultura" diretamente vinculada a burguesia.

George Maciunas, um dos fundadores do Fluxus, redige em 1963 um manifesto em que diz:

"Livrem o mundo da doença burguesa, da cultura 'intelectual', profissional e infra-estrutura. Livre m o mundo da arte morta, da imitação, da arte artificial, da arte abstrata. Promovam uma arte viva, uma antiarte, uma realidade nã-artística, para ser compreendida por todos [...]".

Uma contundente crítica ao materialismo da sociedade de consumo é o elemento constitutivo das performances e ações do artista alemão Joseph Beuys (1912-1986), que pode ser compreendida como Arte Conceitual.

Embora essa perspectiva artística tenha sido iniciada em meados da década de 1960, muito antes de 1960, havia outro movimento que possuía uma atitude antiarte similar. O Dadaísmo e seu representante por excelência, o artista francês Marcel Duchamp, nas décadas de 1910 e 1920 tinha prenunciado o movimento conceitualista, ao propor vários exemplos de trabalhos que se tornariam o protótipo das obras conceituais, como os readymades. Eles desafiavam qualquer tipo de categorização, colocando-se mesmo a questão de não serem objetos artísticos.

Outro importante antecedente é o Desenho de De Kooning Apagado, apresentado por Robert Rauschenberg em 1953. Como o próprio título enuncia, em um desenho de Willem de Kooning, artista ligado à abstração gestual surgida nos Estados Unidos no pós-guerra, Rauschenberg, com uma permissão do colega, apaga e desfaz. assim, o seu gesto. A obra final, um papel em branco quase vazio, levanta a questão sobre os limites e as possibilidades de superação da noção moderna de arte.

Algumas obras que antecederam o movimento da Arte Conceitual:

Desenho de De Kooning Apagado, 1953, de Willem de Kooning, e A Fonte, 1917, de Marcel Duchamp









Arte como Ideia



A Arte Conceitual cresceu em um espaço criado pela vanguarda, e o utilizou para estruturar uma crítica aos pressupostos do modernismo artístico, em particular. Apesar das diferenças pode-se dizer que a Arte Conceitual é uma tentativa de revisão da noção de obra de arte arraigada na cultura ocidental. A arte deixa de ser primordialmente visual, feita para ser olhada, e passa a ser considerada como ideia e pensamento. Muitos trabalhos que usam a fotografia, xerox, filmes ou vídeo como documento de processos e ações, geralmente em recusa à noção tradicional de objeto de arte, são designados como arte conceitual. Além da crítica ao formalismo, os artistas conceituais ferozmente atacam as instituições museológicas, o sistema de seleção de obras de arte e o mercado.

A década de 70 se caracteriza pela expansão da Arte Conceitual, isto é, da arte como ideia, através de novos meios artísticos, operando com o corpo em performances, com os novos meios tecnológicos, multimeios e uma outra modalidade espacial e fragmentada de trabalho - a instalação. Trata-se de uma disposição de elementos em um espaço com a intenção de criar uma relação com o espectador. Há também uma aplicação de novas tecnologias que se associam à operação conceitual do artista, como arte e computador. Ocorre nessa época uma revitalização do pensamento de Marcel Duchamp, condenando a pintura, que, para ele, se situava muito aquém das possibilidades criativas do ser humano.



A infiltração homogênea para piano de 1966, Joseph Beuys



Não é mais possível ir a uma exposição e dizer: "Essa paisagem está bem composta, a pintura é de qualidade". Questões clássicas das artes plásticas como a composição, estudo de cor e o uso da luz podem não ter sentido nenhum na Arte Conceitual".

Principais artistas e suas obras

Joseph Kosuth

Um de seus trabalhos mais famosos é Uma e três cadeiras, uma expressão visual do conceito de Platão sobre as formas. A parte física caracteriza uma cadeira, uma fotografia dessa cadeira, e o texto de uma definição de dicionário da palavra cadeira. A fotografia é uma representação da cadeira situada no assoalho real, no primeiro plano do trabalho de arte. A definição, afixada na mesma parede que uma fotografia, delineia o conceito do que é cadeira e as suas várias concepções.


Uma e Três cadeiras, 1965, Joseph Kosuth



Quatro palavras quatro cores (Four Words Four Colors), 1965, Joseph Kosuth


A abordagem de Joseph Kosuth faz-se cada vez mais aguçada, forçando o ritmo em uma série de obras que se tornaram ícones da Arte Conceitual. Em 1967, ele exibiu obras do tamanho de pinturas - Primeira investigação -, não consistindo de imagens visuais em qualquer forma, mas de palavras: negativos de cópias fotostáticas, branco sobre preto, trazendo como definições dicionarizadas de muitos dos termos-chave, presentes no debate sobre a natureza e estado da Arte Moderna - "significado", "objeto", "representação", "teoria". O subtítulo Arte como ideia como ideia, aponta a natureza ambígua dessa tendência em relação ao modernismo.


Intitulado (Arte como ideia como ideia)/Sentido/1967, Joseph Kosuth



Joseph Beuys

Foi o único artista que estruturou o seu projeto contra a obra de Duchamp. A Banheira, de Beuys rima visualmente e ironicamente com a Fonte, de Duchamp. Para Duchamp, o mais comum e banal dos objetos torna-se sagrado a partir da "minha decisão de colocá-lo num museu". É o auge da antiarte. Para Beuys, "toda pessoa é um artista". A experiência pessoal é o único caminho capaz de nortear uma criação. Quem é habilitado um a criar? Segundo Duchamp, "um signo é aquele que inventa: portanto eu sou o único ou o maior ou o último artista". Beuys responde que todos "aqueles que conhecem a linguagem do mundo, ou seja, você e eu estamos habilitados criar".

Em 1962, Beuys conheceu o movimento Fluxus, e as performances e trabalhos multidisciplinares do grupo, que reuniam artes visuais, música e literatura, inspiraram-no a seguir uma direção nova também voltada para a performance. Beuys se associou ao Fluxus e se tornou seu membro mais significativo e famoso. Sua obra tornou-se cada vez mais motivada pela crença de que a arte deve desempenhar um papel ativo na sociedade.


Algumas obras:

Em A Matilha (1969), Beuys apresenta uma instalação com uma Kombi e 24 trenós de madeira contendo feltro, gordura e lanternas;


Em Como explicar desenhos a uma lebre morta (1965), o artista vaga pela galeria com o rosto recoberto de ouro e mel, carregando no colo uma lebre morta com quem ele fala;

Em Terno de feltro (1970), exibe-se um terno de feltro em um cabide de arame;

(Paula Frantz Zago)

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